quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Yamato nadeshiko shichi henge




Essa é uma história divertida que ganhou forma em mangá, anime e até mesmo dorama. As adaptações não são muito diferentes umas das outras, mantendo a história base e os acontecimentos principais. Dos três, o drama é o que mais se diferencia, podendo não agradar muito os fãs do mangá e do anime. Tem uma temática bastante diferente ao se tratar de uma protagonista que foge completamente aos padrões: não é linda, gentil, meiga e tímida, como costumam ser as heroínas dos mangás, mas, pelo contrário, é desajeitada, despreocupada, amante de tudo que envolva o terror, sem carisma e particularmente creepy.




Sunako Nakahara é uma garota que nutre um grande trauma por ter sido rejeitada pelo rapaz que gostava e ser chamada de feia. Desde então ela para de se cuidar e se tranca num mundo sombrio e macabro, onde ninguém mais pode entrar. É apaixonada por caveiras, cadáveres, sangue, filmes de terror e algumas outras bizarrices. Ela acaba se tornando uma antissocial de primeira, evitando ao máximo as pessoas e trancada em seu quarto escuro e assustador. É então que sua tia muito rica negocia com alguns rapazes que vivem numa de suas mansões: se eles forem capazes de transformar Sunako numa dama, eles não teriam que pagar o aluguel (que provavelmente devia ser os olhos da cara!). Eles aceitam, mas obviamente não imaginam que seria tão difícil assim. 
A história parece um grande clichê, certo? E não está muito longe de ser verdade. Sunako é linda por debaixo da máscara que está sempre usando (seus cabelos no rosto, roupas de dormir e muito desleixo), além de ser uma menina meiga e prestativa, completamente diferente do que todas as pessoas pensam ao seu respeito. 


Sunako e sua franja que praticamente tem vida própria.

Ela também pode se tornar bastante forte e decidida se está sob pressão, além de ser bastante competitiva (mesmo que esses momentos de glória sejam tão curtos). Mas o fato é que ela simplesmente se recusa a mudar. Sunako descobre mais tarde que o que antes era uma armadura para o seu trauma, acabou se tornando um dos mais característicos traços de sua personalidade e identidade. Por isso, mesmo com tanta investidas, se recusa a mudar, porque acredita que não precisa mudar, principalmente se isso será unicamente para agradar os outros.


O problema de Sunako é que ela leva tudo ao extremo e às vezes chega a ser irritante. Ela se recusa a socializar com quem quer que seja, se mantém afastada de pessoas muito bonitas (porque elas são brilhantes demais), é teimosa e não colabora com o que quer que não a interesse. Mesmo que algumas pessoas sejam mais introvertidas que outras e que tenhamos nossas particularidades, é impossível viver completamente alheio a sociedade que nos cerca. Enquanto adotamos atitudes extremas coo as dela, deixamos de conhecer pessoas incríveis que podem compartilhar dos nossos mesmos gostos e angústias, ou não, podem ser completamente diferentes de nós, mas fundamentais para nossa trajetória e crescimento. Ao mesmo tempo a atitude da protagonista se assemelha ao que a traumatizou em primeiro lugar. O garoto foi insensível e preconceituoso com ela, rejeitando-a e chamando-a de feia (e isso continua o tempo todo, com a diferença de que agora ela não se importa); ela é preconceituosa ao afastar as pessoas simplesmente por serem bonitas e brilhantes, como se não pudessem ser mais do que isso. Mesmo que esse extremismo seja própria para dar o aspecto cômico à história, visto como piada, pode ser levado mais a sério se considerarmos que a armadura que Sunako veste é a mesma de muitos jovens que se sentem rejeitados de alguma forma.


Todos sabemos que uma garota pode ser sombria e bonita ao mesmo tempo, e essa mensagem não fica clara na história. Ser bonita não significa ser superficial, mesmo porque beleza é um conceito extremamente relativo. Cuidar de si mesma e da sua auto estima não garante que você seja bonita aos olhos dos outros, mas aos seus próprios, e é realmente o que importa. Sunako tem pouquíssimo amor próprio e é justamente sua falta de confiança que evita com que ela solucione seus problemas e chegue muito longe. 

Todos nós somos estranhos, cada um à sua maneira.

Confesso ter ficado o tempo inteiro esperando a tal transformação da Sunako. Não queria que ela se tornasse uma "dama", uma garota comum e bonita aos olhos da sociedade, ignorando seus próprios gostos e quem ela era de verdade. Pelo contrário, queria que ela finalmente agisse como uma mulher forte e independente, capaz de resolver os próprios problemas, ir atrás do que quer e calar a boca de todos que já riram dela. Uma mulher que pode ser linda e inteligente ao mesmo tempo, mesmo que não se vista como todas as outras garotas, mesmo que não se encaixe no padrão. Uma mulher de personalidade e que tem confiança o suficiente para defender sua própria personalidade, e amá-la acima de tudo. 

Got it?

O mangá é mais completo, mas o anime é bem fiel aos acontecimentos e apenas os condensa. Seus traços do anime particularmente me agradam mais, são mais sofisticados. O drama, apesar de modificar bastante coisa, tem a grande qualidade de que é simplesmente incrível ver personagens ganharem vida e serem interpretados por pessoas reais. Além disso, um grande defeito do mangá e do anime é que Sunako passa a maior parte do tempo desenhada de maneira diferente, pequenininha e escondida, provavelmente para reproduzir a personalidade introvertida nela. Mas no dorama essa artimanha não é possível e finalmente vemos a Sunako o tempo todo como uma pessoa normal (dependendo da definição de normal) e linda como ela realmente é!  O anime é minha versão favorita (inclusive está na minha lista de melhores animes também), mas vale a pena conferir o restante. 


Sonho de consumo.

Por fim, a mensagem geral é muito reconfortante: as pessoas simplesmente não mudam aquilo que faz parte delas, e tampouco devem fazê-lo para agradar os outros, e quem as ama, aprende a amá-las da forma que são. Aceitamos as diferenças, aprendemos a conviver com as mais diversas personalidades e se alguém tenta mudá-lo é porque não gosta do seu jeito e, se não gosta do seu jeito, não gosta de você, uma vez que tudo isso faz parte da sua identidade. Por mais personagens como Sunako que amem filmes de terror, tenham uma aparência fora dos padrões, sejam cheias de acessórios incríveis (como o relógio acima) e nos representem. 

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